Existe um lugar no mundo em que cutucar o olho do outro é prova de amizade, acredita? E não muito longe dali, a melhor saída para se livrar do perigo é ficar em pé, parado, dando gritinhos.
A natureza está cheia de códigos secretos que a ciência faz de tudo para desvendar.
A primeira parada é no Novo México, sudoeste dos Estados Unidos. Lá vive um roedor de jeitinho engraçado, nome comprido e voz estridente: o cão-da-pradaria-de-cauda-curta, Um bicho que adora viver em comunidade e sabe direitinho como se proteger em um ambiente rodeado por predadores.
Mas o que será que seus gritinhos querem dizer? Os pesquisadores apostam num plano pra descobrir. O primeiro inimigo a entrar em cena é um coiote meio fajuto. De longe, parece que convenceu. Mas será que ficar parado, dando gritinhos, é uma reação inteligente?
O teste não acabou. Depois, vem o segundo arqui-inimigo do cão da pradaria: o texugo, um primo das lontras.
Os gritos diante das duas ameaças são registrados pela equipe. Para o ouvido humano, parecem iguais, mas um estudo das ondas sonoras mostra uma sutil diferença, que explica as reações dessa turma dentuça.
Com o alarme de um coiote nas redondezas, os roedores logo ficam em pé, em estado de alerta. E por um bom motivo: o coiote, quando percebe que foi descoberto, acaba desistindo de atacar. Mas, se um cão da pradaria avisa que tem um texugo na área, a debandada é geral. Todo mundo ali sabe que o texugo não se intimida com gritinhos. Ele parte pra cima.
É essa habilidade de identificar o perigo e espalhar a noticia para os colegas que garante a sobrevivência do grupo.
Acontece que nem sempre o problema é tão óbvio assim. Às vezes o inimigo vem de dentro da própria espécie. É o caso do macaco-prego-de-cara-branca, que vive em bandos nas selvas da Costa Rica, na América Central. Ele é um bicho que defende seu território com unhas e dentes. As brigas entre as gangues são tão violentas que muitas vezes acabam em morte.
Como saber se o camarada que está ali do seu lado é seu amigo de verdade? A resposta está em um ritual estranho, que só acontece quando a paz reina na selva. Um macaco coloca o dedo do colega dentro do próprio olho e fica ali horas sem se importar com o incômodo.
E ele não é o único, não! Pesquisadores dizem que o comportamento é visto como prova de lealdade entre os macacos. É uma espécie de “Tamo junto” na língua da macacada! Se eu deixo você cutucar meu olho, é porque confio em você. Estamos no mesmo time. E não tem equipe que vença sem a colaboração de todos. No caso dos elefantes, um cientista na Tailândia está determinado a provar que essa sintonia não acontece por instinto. É inteligência mesmo.
Para isso, o professor Plotnik bolou um desafio. Os elefantes precisam descobrir uma forma de levar uma mesa para perto deles. O prêmio? Dois baldes cheios de sementes apetitosas. Cada elefante vai ter uma corda pra puxar. Acontece que a mesa só vai deslizar se os dois trabalharem juntos.
Claro que eles não iam resolver o problema logo de cara, mas os bichos são determinados. Eles vão tentar de novo. Um cérebro com mais de quatro quilos deve valer pra alguma coisa. É ou não é?
Depois de apenas três tentativas, os elefantes mais espertos da turma matam a charada. Agora, o professor quer ter certeza de que isso não aconteceu por acaso. Então, libera um elefante primeiro, para ver se ele vai esperar pelo outro.
O colega dele também vai ter que se mexer. Não foi coincidência. Depois de oito anos trabalhando com esses grandalhões, o professor já sabia que isso ia acontecer. Os elefantes estão no time dos bichos mais incríveis do mundo.