Foi no Rio de Janeiro, em 1910. Lá nasceu a primeira escola de Veterinária do país, a Escola de Veterinária do Exército. E, nesses cem anos, as mulheres, por exemplo, viraram maioria nas salas de aula. Os veterinários investiram mais em especialidades e até as células-tronco se tornaram opção para tratamentos. Mas uma coisa não muda, a obsessão pelo bem-estar dos animais.
– Isso não podemos perder nunca, o carinho pelos animais, pelo seu bem-estar. E, se for um animal para abate, por exemplo, isso significa cuidar para que esse processo seja correto – afirma a professora Cristina Zaffari Grecelle, diretora do Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).
Mas ela alerta que há uma área promissora para a carreira, fugindo do tradicional cuidado com cães, gatos ou animais de grande porte. Trata-se do controle de qualidade de alimentos de origem animal, como leite, carnes e seus derivados. Cristina vê a preocupação das empresas com a concorrência, querendo se destacar pela qualidade dos seus produtos. É aí que entra o veterinário, que acompanha a produção e cuida para o cumprimento das exigências ambientais.
– É um campo não tão conhecido como tratar animais de estimação, por exemplo. Mas quem se direcionar para isso deve encontrar boas oportunidades daqui para frente, as empresas estão investindo nisso. E, antes de tudo, se preparar para estudar muito – adianta ela.
Clínicas veterinárias exigem profissional preparado
Enquanto isso, ainda segue aquecido o mercado dos animais de pequeno porte. Esse segmento, segundo o veterinário Rodrigo Lorenzoni, é forte no Brasil. Só perdemos em número de animais e em movimentação financeira para os Estados Unidos. Entretanto, ele percebe que, para montar um clínica, por exemplo, é preciso mais do que gostar de cães e gatos. É fundamental gostar de pessoas.
– É preciso saber como atender ao público, saber o que os clientes precisam, conhecer quem levará seus animais de estimação para a sua clínica. Esse preparo precisa ser mais abordado nas universidades – diz Lorenzoni, que também é conselheiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV/RS).
Ele conta que instituições de São Paulo começam a oferecer mais disciplinas de gestão de marketing no curso de Veterinária, preparando seus egressos para o empreendedorismo. Essa tendência, acredita, chegará ao Estado. Enquanto isso não ocorre, profissionais recém-formados procuram ter experiências antes de partir para um voo independente. Fernanda Boligon Zembrzuski, 26 anos, faz residência médica-veterinária em clínica de pequenos animais no Hospital Veterinário da Ulbra. Formada pela Universidade Federal de Santa Maria, ela prevê trabalhar em clínicas para conhecer a rotina e descobrir como começar um empreendimento.
– Eu sempre quis atuar nessa área, e trabalhando no hospital me motivei mais ainda. Mas, para montar um empresa, é preciso ter uma noção que ainda não tenho. Quero atuar mais no mercado e obter experiência. Sou de Santo Ângelo, mas gostei da Região Metropolitana, quero tentar carreira por aqui – conta a médica veterinária.
Se antes ser bom era um trunfo para vencer a partida, hoje é apenas a primeira condição para entrar no jogo.
Rodrigo Lorenzoni, médico veterinário e conselheiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV/RS)