Chegou ao fim uma das mais ofensivas novelas de todos os tempos – pelo menos no que se refere aos animais. Foi a novela em que o herói diz na cara da vilã: “Você não é humana. Você é um animal. Aliás é pior que um animal!”.
O que é ser “pior que um animal”? Um animal é sinônimo do que? De coisa ruim, negativa, condenável. Os personagens se xingam de “cachorro”, “bicho”, “anta”, “cobra”, “toupeira”, “rato”, etc. O curioso é que estamos em plena tirania do “politicamente correto”. Hoje está praticamente proibido dizer até que uma nuvem é negra – pois isso implica numa visão “racista”.
Ora, um negro é um negro, um branco é um branco, um oriental é um oriental, um árabe é um árabe, um judeu é um judeu, um homossexual é um homossexual, uma lésbica é uma lésbica, e estamos todos felizmente protegidos por leis anti-discriminatórias. Mas isso não vale para animais não-humanos. E eles não têm ONGs para se defender.
Mesmo nós, que os protegemos, ainda chamamos pessoas menos inteligentes de “burra”, homens grosseiros de “cavalo”, mulheres fáceis de “piranhas”, e assim por diante. É muito comum ouvir que “fulano foi tratado pior que um animal”. Ou “não se faz uma coisa ruim dessas nem para um animal”.
Se queremos que os animais sejam fisicamente respeitados, devemos começar pelo começo – a linguagem que usamos. Ela é a base de tudo o que permitimos que aconteça.
Se abusamos dos animais naquilo que dizemos, permitimos que coisas piores aconteçam no mundo concreto.
Corretíssimo. Se me chamarem de animal, considero um elogio.
Papo com Dagomir Marquesi – escritor e jornalista