São Paulo ganhou 900 mil cães e 350 mil gatos em apenas seis anos

Pouco mais de 11 milhões de pessoas vivem em São Paulo, mas a população que mais cresce na cidade não é a humana. Enquanto o número de homens, entre 2002 e 2008, cresceu 3,5%, a quantidade de cães aumentou 60% e a de gatos, 152,17%, de acordo com estudo da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).

O último censo animal, realizado em 2002 pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), indicava 1,5 milhão de cães e 230 mil gatos supervisionados – com algum responsável – na capital. Em 2008, a população canina alcançou 2,4 milhões e a felina, 580 mil.

Estima-se que para cada 4,5 moradores da cidade exista um cão. O bairro do Grajaú, extremo sul, é a região com maior quantidade absoluta de cães: 135 mil. Apesar disso, no Campo Belo, também na zona sul, a razão entre moradores e cachorros é maior. Para cada 1,5 morador há um cão no bairro.

Bimbo, um cocker spaniel inglês de 4 anos, é um deles. Mora e passeia todos os dias pelas ruas da região. “É a minha sombra, meu neném. O Bimbo é um membro da família”, comenta a engenheira Monise Villano, de 30 anos. A região com menor quantidade de cachorros por habitante é o distrito de José Bonifácio, na zona leste. Lá, para cada 13,6 pessoas há um cão.

Pensando em aumentar a “família”, composta atualmente por Nikita, uma pit bull de 8 anos, e duas poodles, Meg e Bambina, de 7 e 11 respectivamente, o empresário Danilo da Silva, de 22 anos, sonha em se mudar. “Quero ir para um espaço maior. Convenci minha mulher. Não queremos ter filhos, mas pretendemos criar mais cães.”

A médica veterinária e mestranda Bianca Davico Canatto, também coordenadora da pesquisa, afirma que o crescimento da população felina é ainda mais expressivo. Em sete anos, o número de gatos duplicou. O distrito de Raposo Tavares, na zona oeste, abriga a maior quantidade de gatos: 29 mil. Estima-se que para 19 homens na cidade exista um felino. No Butantã, há um gato para cada 2,3 moradores. A proporção é maior no Tatuapé: 56,4 pessoas por bichano.

QUESTÃO DE ESPAÇO

Segundo o professor e coordenador do estudo da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Augusto Dias, os números ajudam a desconstruir a “falsa impressão de que exista mais cães na periferia do que em regiões nobres”. “Não existe uma relação em ter mais ou menos cães com o nível socioeconômico. Acreditamos que a quantidade está ligada ao espaço disponível.”

Assim, bairros compostos por imóveis (residenciais ou comerciais) com áreas externas grandes abrigam a maior parte da população canina. “Já em áreas verticalizadas, independentemente se ricas ou pobres, a concentração de felinos é maior”, completa Dias. Para o levantamento, os pesquisadores da USP visitaram 12 mil residências.

Pela primeira vez, animais em imóveis comerciais foram contabilizados nesse tipo de pesquisa. “Anteriormente, animais que cuidavam de um terreno, empresa, loja ou imóvel abandonado não eram contados. O que, além do crescimento natural das populações, pode ter influenciado nas contagens”, explica Ricardo Augusto Dias, coordenador do estudo.

Além da distribuição de cães e gatos na cidade, o censo animal 2008 também servirá para traçar um perfil da saúde das populações animais. Agora, a Prefeitura pretende utilizar os dados para definir as próximas campanhas de vacinação, controle de doenças, castração e adoção. “Eles (a Prefeitura) têm um retrato macro sobre a distribuição de cães e gatos na cidade. Com as informações de cada um dos 96 distritos será possível direcionar as ações e torná-las ainda mais eficazes”, afirma o coordenador.

Em regiões como as do Itaim-Bibi, Bela Vista, Consolação, Moema, Jardim Paulista e Pinheiros, 100% das populações de cães e gatos são vacinados em clínicas veterinárias particulares. “O que torna inexpressivas ações de vacinação nesses bairros”, ressalta Dias.

Os cachorros paulistanos têm em média 4,9 anos; 52,6% são machos; 16,7% estão esterilizados; 36,1% são vacinados em clínicas veterinárias particulares e 30,4% foram comprados. Já os gatos têm em média 3,9 anos; 41,3% são machos; 40,6% esterilizados; 32,5% vacinados em serviços particulares e apenas 8,7% comprados. “Com os felinos não há a mesma preocupação com a raça. Os sem raça definida são bem aceitos, ao contrário dos cães”, diz Ricardo Augusto Dias. “A valorização da raça dos cachorros é puro modismo. Não existe uma escolha consciente e adequada da raça. Aí, quando o animal cresce, o dono o abandona.”

O professor ainda alerta para um dado geral das populações: só 20,2% dos animais vão pelo menos uma vez ao ano ao veterinário (frequência sistemática). O distrito do Morumbi, na zona sul, concentra a maior atenção à saúde canina e felina: 69,8% dos animais costumam frequentar o veterinário. Em José Bonifácio, na zona leste, apenas 1,8% dos animais são acompanhados por especialistas.