O vínculo emocional criado entre o proprietário e o bichinho de estimação é muita intenso. Por isso, quando um animal desaparece a sensação de tristeza costuma deixar os donos arrasados, quase como se vivessem um luto. “É uma reação de perda significativa. O elo entre eles é muito forte. Acontece uma relação de cuidado, investimento afetivo do dono para com o animal. Em muitos casos, a mascote também substitui um membro da família, pode representar um filho, um irmão”, explica a psicóloga Keila Montenegro.
Akira, uma husky siberiano de 2 anos, fugiu no fim do ano passado. “Ela se assustou com fogos de artifícios e passou pela grade do portão. Estávamos todos viajando e um parente vinha cuidar dela diariamente”, conta a estudante Larissa Pimenta, 26 anos.
A família só ficou sabendo do sumiço quando voltou de viagem. “Eu fiquei muito preocupada e, a partir daí, começamos uma busca intensa por ela”, afirma. Larissa divulgou fotos da cadela pela internet. A cachorrinha foi encontrada a partir da campanha virtual. “A Akira estava no Paranoá”, conta.
Segundo Larissa, a nova dona disse que a cadela quase foi atropelada. “Ela estava perdida e andando pela EPTG. Me contaram que muitas pessoas tentaram roubá-la. Mas deu tudo certo no fim.” Akira se adaptou a rotina da casa que a abrigou. “Nos primeiros dias, ela não quis comer, mas depois ficou feliz por ter sido bem recebida”, conta.
Especialistas destacam que os animais mais propensos à fuga são os entediados. A euforia pode fazer o cão perder o caminho de casa, especialmente se ele costuma ficar muito tempo trancado e não passeia com frequência. Para ele, a diversão é a rua. “Os bichos podem ficar tão animados que nem sabem para onde estão indo. Aí, entram em pânico e vão para lugares cada vez mais distantes”, explica o adestrador Carlos Júnior.
A dor da separação pode ser devastadora, já que a ligação entre pessoas e animais é bastante significativa. “É uma relação muito especial, pois não há frustração. O animal atende as expectativas emocionais do dono”, destaca Keila Montenegro . Ainda segundo a especialista, não conseguir encontrar um bichinho perdido pode ser mais doloroso do que, de fato, ele morrer. “Quando a relação dos dois é rompida de forma abrupta (perda ou roubo), a dor é mais latente. A pessoa não sabe o que aconteceu e sempre vai alimentar a esperança de um dia poder encontrar o animal. Tem semelhança com o luto, os sentimentos são os mesmos, mas a sensação é infinita”, afirma a psicóloga.
Quanto ao pet, o sofrimento se dá em nível menor. O cachorro, por exemplo, é um animal com grande capacidade de adaptação. “O cão se adequa muito rapidamente a uma nova situação, conforme a necessidade. É uma questão de sobrevivência. Até mesmo quando está abandonado na rua, se alguém se aproximar, ele vai ser dócil”, afirma.
Inserido em uma nova rotina, a tristeza dura muito pouco. “O cãozinho pode ficar assustado nos primeiros dias, mas, em pouco tempo, começa a brincar e a comer normalmente. Até o fato de ter outro nome faz com que ele se acostume mais rapidamente”, explica o adestrador. Quando o animal reencontra a família é fácil voltar à rotina. “O cachorro tem boa memória e pode lembrar das pessoas por anos. Quando volta para casa, é ainda mais fácil”, afirma Carlos Júnior. “Ele não vai ficar lembrando do tempo que ficou para trás, vai apenas ficar feliz se for bem tratado e receber atenção. O pet vai ter traumas apenas se tiver sido muito maltratado, pode ficar medroso em algumas situações”, afirma Carlos Júnior.
Alguns truques podem ajudar donos e pets a evitarem as fugas. Passear com o cão sem guia pode ser perigoso, mas também serve como forma de ensinar o animal a não fugir. “O dono pode ainda se afastar do pet e depois aparecer. Ele vai ficar mais seguro na presença do tutor”, explica Carlos Júnior.
Ainda segundo o adestrador, existem técnicas para evitar que o animal fuja. É possível condicioná-lo a não sair sozinho. “O proprietário precisa ensinar que ele não se deve sair se for chamado por alguém. O dono pode pegar a guia, tirar do animal, chamar ele e mostrar o portão aberto, sempre sinalizando que ele não deve deixar a casa”, afirma.
O especialista também destaca a necessidade de ensinar o cão a andar por vários caminhos. Isso faz com que ele aprenda várias formas de voltar para casa. A dona de casa Alessandra Lima, 39 anos, encontrou uma cadela yorkshire a pouco mais de uma semana, em Taguatinga. “Eu estava na casa de uma amiga e a vi na rua. A cadela estava suja e faminta. Eu fiquei sentida e a trouxe para casa”, conta.
Apesar do resgate bem-sucedido, Alessandra não sabe até que quando vai poder ficar com a mascote. “Eu moro em apartamento e tenho mais dois cachorros grandes. Mas ela vai ficando por aqui até os donos aparecerem ou eu encontrar outra família”, afirma. E a cachorrinha já recebeu até um novo nome: Xica. A dona de casa diz que ela está se adaptando perfeitamente a rotina da família e é muito dócil.
Enquanto Alessandra se alegra com a nova moradora, a técnica em enfermagem Márcia Torres, 37 anos, conta os dias para rever sua mascote. A cadela Miúcha, uma dachshund de 2 anos, saiu de casa em 14 de março e, até agora, não voltou. A dona só soube o que aconteceu antes por meio de relato dos vizinhos. “Era um domingo e a família toda estava fora. Ela tem muito medo de fogos e estava tendo uma partida de futebol aqui perto. Com o barulho, ficou desesperada e fugiu”, conta.
De acordo com a dona, a cadelinha tinha o costume de ficar na porta de casa e sempre voltar. “Acho que, no momento de desespero, ela nem viu para onde ia e se perdeu”, afirma. A família mora no Guará e usou vários recursos para tentar encontrar a dachshund. “Já colamos cartazes, espalhamos fotos, anúncios no Facebook e fomos procurar na rua”, relata.
Na casa, todos estão abalados com a ausência da cadela. “É uma situação muito triste. A família inteira está sentindo falta porque Miúcha era a alegria da casa. Todos éramos muito apegados”, afirma Márcia. Além da dachshund, eles são donos de Chicão, um vira-lata de 3 anos. O cãozinho está desolado desde que a cadela se foi. “Ele nem está comendo direito. Os dois brincavam o dia todo, então, ele está sentindo muita falta dela”, conta.
Apesar de não terem qualquer pista sobre o paradeiro da cadela, não perderam a esperança de encontrá-la. “Nós não desistimos. Vamos todo dia na rua, olhamos a internet o tempo. Eu acredito que ela ainda vai voltar para fazer a alegria da casa”, afirma.
Na rede
A internet é uma ferramenta importante para procurar o pet. Existem sites e páginas em redes sociais que oferecem ajuda aos donos em busca dos animais. Muitos bichos são encontrados por meio de informações e fotos trocadas na web.
Cadê Meu Pet DF
(https://pt-br.facebook.com/CadeMeuPetDF)
Cachorro Perdido
(www.cachorroperdido.com.br)
Procure 1 Amigo
(www.procure1amigo.com.br)
Eu me Perdi
(www.eumeperdi.com.br)
Pet Vale
(www.petvale.com.br)