Aquários trazem paz apenas para quem vê de fora

Os aquaristas que criam peixes tropicais dirão que seus aquários são uma fonte de relaxamento, mas uma pesquisa recente sugere que os peixes podem discordar.

Quase 13 milhões de lares nos Estados Unidos possuem um aquário, e o aquário médio tem menos de 40 litros. Ainda assim, um estudo comparando o comportamento de peixes comuns de água doce em diversos habitats descobriu que os mantidos em aquários pequenos eram consideravelmente mais agressivos do que os que vivem nos grandes — têm maior propensão a brigar, inflar as guelras e proteger qualquer cantinho minúsculo que encontrarem.

“Em aquários maiores, os peixes não se mantinham o tempo todo à vista um do outro, e ficavam nadando ao redor conferindo tudo em vez de ficarem se digladiando”, disse o autor do estudo, Ronald G. Oldfield, professor de biologia da Case Western Reserve University.

O peixe em questão era o ciclídeo midas, espécie popular entre aquaristas pelas cores brilhantes e natação ativa. Oldfield usou apenas peixes bastante jovens para eliminar comportamentos agressivos associados ao acasalamento.

Oldfield reconhece que o bem-estar do peixe pode não despertar emoções profundas. “Provavelmente não é o fim do mundo”, disse durante entrevista telefônica. Nem a Sociedade Protetora dos Animais, que costuma produzir comerciais com imagens em câmera lenta de animais que sofreram violência, oferece diretrizes para o tratamento de peixes de estimação.

“Trabalhamos com quase todas as questões animais que existem, mas não creio que esta seja uma delas”, afirmou um porta-voz por e-mail.

Ainda assim, Oldfield observou que o aquário doméstico médio tinha apenas um décimo do tamanho do menor tanque do estudo para produzir peixes dóceis.

“Se as pessoas mantivessem cachorros nessas condições, seriam presas. Isso é algo em que deveríamos pensar.”

O estudo consistiu de dois experimentos conduzidos simultaneamente. Num deles, Oldfield testou os efeitos da superpopulação ao manter o tamanho do aquário constante enquanto aumentava o número de peixes. No outro, testou o ambiente ao colocar três peixes em tanques cada vez maiores e complexos. A seguir, ele filmou seu comportamento pelo menos duas horas depois da alimentação, para eliminar comportamentos competitivos ligados à comida.

Embora a agressão parecesse permanecer uma constante, independentemente do número de peixes no aquário, Oldfield observou que ela caía consideravelmente assim que o peixe era colocado num tanque de 400 litros com várias plantas e pedras para formar ninhos.

As descobertas confirmaram o que ele encontrou ao observar o midas na natureza.

“Se você for observar esses peixes nadando num rio, eles não são nem um pouco agressivos.”

Este não é o primeiro estudo a sugerir que criaturas aquáticas podem se tornar agressivas em aquários pequenos. Biólogos da Universidade do Alabama, campus de Birmingham, descobriram recentemente que o ouriço-do-mar partia para o canibalismo quando mantido em aquários pequenos e superlotados. Os pesquisadores estavam tentando recriar as condições típicas da criação do ouriço-do-mar, uma iguaria da cozinha japonesa.

A ideia também não é nova para Justin Muir, proprietário da City Aquarium, loja do setor de aquariofilia de Nova York.

“Tem a ver com exercícios comportamentais”, disse Muir, que projetou aquários para C.C. Sabathia, arremessador do Yankees e para o Dream Hotel, em Manhattan. “Um maior volume de água é sempre a melhor aposta. Isso mantém os peixes mais saudáveis e o aquário, mais estável.” Segundo ele, os peixes são iguais a quaisquer bichos mantidos em ambiente pequeno. Entretanto, existe uma grande diferença entre peixes e, por exemplo, rottweilers: o comportamento agressivo das coisinhas nadadoras pode ser divertido, ao menos para os humanos.

“É por isso que esses peixes vendem. As pessoas gostam do jeito como se comportam.”

Na verdade, os aquaristas provavelmente não se veem trocando com alegria diabólica relatos online de ciclídeos em conflito. Descrevendo um caso de “ira ao volante” entre dois de seus peixes, uma visitante do Fishchannel.com escreveu:

“Os dois ficavam um na frente do outro contraindo as nadadeiras inferiores como numa linguagem de sinais, gritando um para o outro: ‘Você quase bateu em mim, seu idiota cego. Não me viu chegando? A preferência era minha!’”

A superpopulação também virou um problema nos criadouros de peixes, onde salmões ou trutas podem ser agrupados em cercados de alta densidade, como frangos ou porcos em fazendas industriais. Nesse caso, o problema tem menos a ver com a felicidade do peixe e mais com sua saúde, declarou Alan Duckworth, cientista pesquisador do Blue Ocean Institute, em Cold Spring Harbor, Long Island.

“Algumas espécies se saem melhor em altas densidades, mas a maioria delas poderia ser afetada pela superpopulação. É provável que fiquem estressados, o que poderia aumentar a quantidade de doenças.”

Um problema frequentemente citado com o peixe cultivado, principalmente o salmão, é o piolho-dos-peixes, cuja propagação virou um problema tamanho que, na Escócia, o governo está avaliando a proibição da piscicultura costeira.

Para Oldfield, o bem-estar dos peixes é uma preocupação que remonta a quando ele tinha seis anos e ganhou um peixe-dourado num pequeno aquário numa feira municipal. Ele diz compreender que um tanque de 400 litros é muito caro para o típico aquarista tropical, mas as pessoas que amam seus peixes deveriam estar conscientes dos danos que podem estar causando ao mantê-los em ambientes pequenos e insípidos.

“Não estou dizendo que as pessoas precisam parar de criar peixes como animais de estimação, mas elas precisam examinar a ecologia da agressão animal.”

Quanto aos peixes-dourados ganhos em parques de diversão, “eles nunca deveriam ser mantidos nesse tipo de aquário”.