Angela saiu do tribunal com ‘Tequila’ graças às palavras em português ditas pelo pássaro.
Uma das notícias que mais chamou a atenção da mídia aqui no sul da Flórida esta semana – e até em outras partes do mundo – foi a de um litígio na justiça envolvendo duas mulheres que se diziam legítimas donas de um papagaio cinza africano de 13 anos de idade. Muitas matérias não disseram, porém, que Angela Colicheski é brasileira e que um dos motivos que levou o juiz a decidir a seu favor no tribunal foi o fato de que a ave obedeceu a seus comandos em português.
“Dá o pezinho, Tequila”, disse a paranaense Angela, chamando o papagaio que foi o presente recebido no Dia das Mães de 1996.
Há três anos, porém, o pássaro arriscou um vôo mais distante da casa da brasileira, em Boca Raton, e nunca mais voltou. “Fiquei muito triste e, na época, ofereci recompensa para quem encontrasse o animal”, lembra Angela, que é casada, tem dois filhos e adora aves – cria outras seis espécies, inclusive araras e outros papagaios, que custam cerca de dois mil dólares, cada.
Em janeiro deste ano, numa conversa informal numa cafeteria da região, ela descobriu que seu animalzinho de estimação estava na casa de uma outra moradora de Boca Raton, que vive a menos de uma milha de distância de sua residência. “Foi uma tremenda coincidência, pois nos conhecemos por acaso e começamos a falar sobre nossa paixão comum por aves e logo percebi que ‘Tequila’ estava com ela”, contou Angela sobre o encontro casual com a outra mulher, Sarita Lytell.
Esta, por sua vez, admitiu que chegou a procurar pela dona verdadeira quando o pássaro aterrissou em seu jardim, mas depois de três anos se afeiçoou ao bichinho, que recebeu um novo nome: ‘Lucky’.
A pendência foi parar na Corte de Delray Beach. “Pelas leis da Flórida, os animais de estimação são bens móveis e quem os encontra deve buscar ajuda das autoridades para encontrar o verdadeiro dono. Em outras palavras, o que aconteceu foi o mesmo que encontrar um automóvel com a chave na ignição e sair dirigindo”, explicou Spencer Siegel, advogado de Angela.
Graças à insistência dele, o juiz responsável pelo caso resolveu “convocar” o pássaro para a audiência: as palavras ditas em português e algumas evidências – como fotos do animal com a família Colicheski, por exemplo – facilitaram a decisão do magistrado. Ou seja, o papagaio chegou à Corte como ‘Lucky’ e saiu como ‘Tequila’, nas mãos de sua verdadeira e legítima dona.
A cena do reencontro de Angela com a ave correu o mundo: várias emissoras transmitiram a imagem, entre elas a CNN, a Fox, a CBS e a Globo. “Meus parentes em Curitiba e Ponta Grossa me telefonaram para dizer que eu havia me tornado uma celebridade”, brinca a brasileira, que prometeu aparar com mais frequência as asas de ‘Tequila’ para evitar outros imprevistos. Ainda corre na Justiça um processo de perdas e danos contra Sarita, mas Angela já conseguiu o que queria.