Que o cachorro é considerado o melhor amigo do homem, muitos já estão fartos de saber. A novidade é que os animais podem ser também bons terapeutas. Na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Santa Cruz do Sul essa habilidade dos cães começou a ser explorada recentemente para melhorar a qualidade de vida dos alunos. O projeto Cão Terapia teve início na semana passada e já mostra resultados positivos: o carisma do labrador cor chocolate conquistou a simpatia dos alunos que, aos poucos, perdem o medo de interagir com o animal. “Essa é uma raça que permite esse tipo de trabalho, pois quando bem adestrado, o labrador é capaz de colaborar para a melhora da autoestima das crianças”, observa a coordenadora do projeto, Maísa Teichmann Kersting.
Há três anos, Maísa utiliza os cães para auxiliar na terapia de idosos, por meio de um projeto em parceria com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Na Apae, a professora vivencia sua primeira experiência com crianças portadoras de necessidades especiais. Segundo ela, o trabalho é benéfico para os alunos na medida em que desperta o amor incondicional, sem preconceitos; estimula a projeção dos sentimentos; facilita a distinção de problemas emocionais e cognitivos; aprimora a motricidade e auxilia na integração social. “Além disso, o contato com cães pode dar sequência às atividades praticadas em sala de aula”, sugere Maísa.
Parcerias
A Cão Terapia é apenas um dos muitos projetos que prometem movimentar a Apae neste ano. Na área do ambiente uma iniciativa denominada Patrulha Ambiental envolverá os alunos, a partir do próximo mês, em atividades de reciclagem, separação de lixo, cultivo de horta e limpeza de pontos da cidade. No campo do esporte, uma parceria com o Sesi possibilitará a participação das crianças no projeto Atletas do Futuro, que tem por objetivo desenvolver a prática esportiva por meio de ações socioeducativas. Além disso, as oficinas já existentes serão ampliadas: a ecoterapia agora ocorre duas vezes por semana, e o trabalho de artesanato deve ganhar novos moldes em breve.
O presidente da Apae, Edemilson Severo, adianta que a ideia é aprimorar as oficinas para cursos pré-profissionalizantes divididos em módulos que incluiriam aulas de confecção de joias e bijuterias. “Ao final de cada etapa, o aluno ganharia um diploma, como forma de estímulo para se preparar para o mercado de trabalho”, explica.
Severo salienta, ainda, a confirmação de importantes parcerias. As despesas contábeis da instituição estão sob responsabilidade do Escritório Contábil Haas, que assumiu a prestação dos serviços pelos próximos três anos. As casas-lar, então desativadas, serão locadas pela Prefeitura para abrigar um projeto da Secretaria de Assistência Social. A campanha Matemática pela Solidariedade terá a segunda edição em maio, quando serão encartados boletos bancários nas contas de luz para doações em favor da Apae e da Copame. A mobilização acontece, novamente, em parceria com o Banrisul e a AES Sul. A distribuidora de energia também será parceira na realização do Torneio de Golf Par 3, agendado para 2 de abril no Country Clube. Já o curso de Medicina da Unisc promoveu o Trote Solidário, que terá sua última ação hoje e amanhã, com o pedágio a pé nas ruas centrais de Santa Cruz em busca de doações para a Apae. “As parcerias são fundamentais em busca do modelo de entidade autossustentável e beneficiam as próprias empresas, que cumprem com o seu papel de responsabilidade social”, avalia.
Restruturação pedagógica
Atualmente a Apae atende 360 alunos e conta com 47 profissionais no seu quadro funcional. Conforme Severo, cada aluno custa para a entidade R$ 372,14 mensais apenas para serviços de educação, sem contar o suporte para a saúde. Do Sistema Único de Saúde (SUS), a instituição recebe o aporte de R$ 12 mil por mês. “Mas se fôssemos receber pelo que produzimos, seriam R$ 82.144,00”, afirma.
Na direção da Apae desde o início do ano, Clarissa Pintaúde Hohlfeldt adianta a inclusão de oito novos alunos. Porém, esse número pode chegar a 20, já que 12 estão em avaliação. “Vamos reorganizar as turmas e restruturar o plano pedagógico para ir ao encontro da inlcusão. Por isso, vamos buscar assessorias para acolher também as famílias e as pessoas com deficiência que envelhecem na instituição, para as quais ainda faltam programas de apoio”, acredita.
Conforme Clarissa, as turmas da Apae são formadas em conformidade com a legislação e de acordo com a idade cronológica dos alunos, e não com a idade mental. Sendo assim, a educação infantil engloba crianças de 4 a 6 anos. Na escolarização inicial, onde são trabalhadas a alfabetização e o letramento, são inseridos os alunos de 6 aos 15 anos. Após os 15, os estudantes ingressam na escolarização para jovens e adultos, além de serem preparados para o mercado de trabalho. Para quem tem déficit intelectual mais avançado, existem programas pedagógicos específicos.