Rosie, o primeiro cão de tribunal aprovado judicialmente em Nova York, estava no banco das testemunhas ao lado de uma menina de 15 anos que testemunhava que seu pai a havia estuprada e engravidado. Rosie estava aos pés da adolescente. Nos piores momentos, ele inclinava-se sobre a jovem.
Quando o julgamento terminou em junho, com a condenação do pai, a adolescente estava “muito grata a Rosie, principalmente”, disse David A. Crenshaw, um psicólogo que trabalha com a adolescente. “Ela abraçava Rosie sem parar”.
Agora um apelo planejado pelos advogados de defesa quer colocar a Rosie no centro de um debate jurídico que irá testar se haverá cachorros como ela em salas de audiência em Nova York e, possivelmente, outros Estados americanos.
Rosie é uma cachorra de terapia da raça golden retriever que se especializa em dar conforto a pessoas que passam por momentos de forte estresse. Ambos os procuradores e advogados de defesa a descrevem como um animal adorável, embora ela babe um pouco. O Ministério Público local também ressalta que ela está na vanguarda de uma tendência crescente durante os julgamentos: no Arizona, Havaí, Indiana, Idaho e alguns outros Estados nos últimos anos, os tribunais têm permitido tais cães treinados para oferecer às crianças e outras testemunhas vulneráveis consolo diante do júri.
O novo papel para os cães como facilitadores do testemunho pode gerar problemas jurídicos, no entanto, com os advogados de defesa argumentando que os cães podem influenciar de forma injusta nos jurados com sua graciosidade e empatia natural – não importando se a testemunha está dizendo a verdade ou não. Alguns promotores insistem ainda que os cães de tribunal podem ser um conforto fundamental para que as testemunhas consigam suportar a provação de falar sobre um trauma, especialmente crianças.
Origem
Esse tipo de apoio à testemunha dos cães teve início em 2003 em alguns Estados americanos quando um cachorro chamado Jeeter pode ajudar em um caso de agressão sexual, em Seattle. “Às vezes o cão significa a diferença entre uma condenação e uma absolvição”, disse Ellen O’Neill-Stephens, promotora de Seattle que se tornou ativista pela causa dos cachorros de tribunal.
Cães guia e outros animais têm permisssão para atuar em tribunais. Mas em uma decisão em junho que permitiu que Rosie acompanhasse a vítima de estupro no julgamento, Stephen L. Greller, juiz do condado de Dutchess, disse que a adolescente estava traumatizada e o réu, Victor Tohom, parecia ameaçador. Embora não haja precedente no Estado, Greller decidiu que Rosie era semelhante ao urso de pelúcia que um estado de Nova York permitiu acompanhar uma criança testemunha em 1994.
Pelo menos uma vez quando a adolescente hesitou no tribunal de Greller, Rosie levantou e pareceu empurrar a menina delicadamente com o nariz. Tohom foi condenado e sentenciado de 25 anos à prisão perpétua.
Seus defensores públicos, David S. Martin e Steven W. Levine, têm levantado uma série de objeções que podem levar o caso a mais alta corte de Nova York. Eles argumentam que, como um cão de terapia, Rosie responde a pessoas sob estresse, confortando-as, seja o estresse por enfrentar um réu culpado ou por mentir sob juramento.
Mas eles dizem que os jurados tendem a concluir que o cão ajuda as vítimas a expor a verdade. “Toda vez que ela acariciava o cachorro, ela passava uma mensagem inconsciente para o júri de que estava sob estresse porque ela estava dizendo a verdade”, disse Martin. “Eu não tenho como interrogar o cachorro”.
Matthew A. Weishaupt, procurador do condado de Dutchess do caso, argumentou que Rosie e cães como ela não afetam a substância do testemunho sobre crimes horripilantes. “Esses cães aliviam o estresse e aliviam o trauma para uma criança que precisa testemunhar”, disse Weishaupt.
Para Dale e Lu Picard, donos da Rosie, o trabalho no tribunal é uma mudança de carreira depois de anos trabalhando com crianças emocionalmente perturbadas em um centro de apoio. A sua organização, Educated Canines Assisting With Disabilities, treina os cães e os coloca em serviço para realizar tarefas como acender luzes e abrir portas.
Rosie, 11 anos, batizada em homenagem à pioneira dos direitos civis Rosa Parks, foi originalmente ensinada a realizar 80 comandos, incluindo tirar as meias de uma pessoa sem morder os dedos dos pés. Mas ela tem um talento especial com crianças traumatizadas, disse Crenshaw, o psicólogo que já trabalhou ao lado dela com três testemunhas e muitas outras crianças traumatizadas.
“Quando eles começam a falar sobre coisas difíceis, a Rosie percebe e chega mais perto fazendo carinho. Eu vi com meus próprios olhos”, disse Crenshaw.