Aníbal é um cachorro agitado e inteligente.
Obedece a sua dona sempre que ela o manda ficar sentado ou pegar algum objeto, mas é também muito bagunçeiro, como todo bom vira-lata. Uma vez por semana, Aníbal usa sua energia para cumprir uma nobre e importante tarefa: é auxiliar de fisioterapia de um asilo em Cotia, na Grande São Paulo. Lá, o cachorro de 5 anos pega as bolinhas jogadas pelas idosas que se exercitam, obedece quando elas lhe dão ordens e fica quietinho enquanto elas escovam seus pelos. “Ele é um cachorro hiperativo e muito generoso. Sabe que aqui no asilo tem uma função e uma responsabilidade”, diz a psicóloga Fátima Maria Cândido, sua dona.
O cão de Fátima faz parte do projeto do Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais (Inatta), ONG que promove sessões de fisioterapia com cães adestrados. A terapia assistida por animais (TAA) é uma prática conhecida desde os anos 70 no mundo todo. Os bichos são usados como facilitadores em tratamentos psicológicos, de autistas, pessoas com traumas ou problemas de sociabilidade. Estudos já provaram que o contato de uma pessoa com um cachorro, por pelo menos quinze minutos, pode diminuir a pressão arterial e elevar os índices de dopamina, substância ligada à sensação de prazer e motivação, e de endorfina, o analgésico natural do corpo. “A presença dos cachorros também facilita a socialização, a sensação de confiança e a criação de vínculos”, diz Silvana Fedeli Prado, presidente do Inatta.
[em]Foi pensando nisso que o fisioterapeuta Vinicius Fava Ribeiro quis investir no tratamento com os cães. Comum no Canadá e nos Estados Unidos, esse tipo de terapia ainda é pouco usado no Brasil. “A classe dos fisioterapeutas ainda não despertou para esse tipo de terapia.[/em]
Falta informação e divulgação”, diz. Ribeiro começou a trabalhar com TAA em seu trabalho de conclusão de curso da faculdade. Tratou de quatro idosos junto com sua cachorra Flora, uma bernese, e percebeu que os idosos se sentiam mais estimulados a fazer os exercícios quando Flora estava presente. Eles também se queixavam menos de dores durante as sessões. Depois de concluir o trabalho, Ribeiro foi trabalhar de voluntário no Inatta.
Flora Bompan, que trabalha no asilo Recanto da Vovó, atendido pela ONG, diz que muitas das idosas que hoje fazem as sessões foram atraídas pelos cachorros. “Não sei se elas gostam da terapia, mas gostam dos bichos e acho que acabam gostando do exercício também. Além de ser uma atividade boa para a saúde delas, é um momento de lazer. Elas se distraem e ficam bem-humoradas”, afirma.