E aquela história de que os vira-latas são mais fortes por viverem nas ruas em condições insalubres? Especialistas desmentem esse mito e destacam que os cães sem raça definida (SRD) são tão sensíveis quanto qualquer outro. Eles têm as mesmas necessidades: ração adequada, veterinários, amor e atenção. Muitas pessoas, no entanto, continuam a acreditar que são bichos extremamente resistentes. “No cruzamento que originou o animal, ele pode ter reunido todas as aptidões dos pais, como pode, também, ter agrupado os pontos fracos em um único filhote”, afirma o veterinário Rafael Souza. O pior que pode acontecer é cruzar dois cães de raças diferentes que tenham doenças genéticas.
Adauto Belli tem 44 anos e é criador e treinador de cachorros. Mas o xodó dele é Chupeta, um vira-lata de 10 anos e 40 quilos. Chupeta é uma provável mistura de pastor alemão com fila e sofre de várias doenças. Tem artrose (degeneração articular), osteosarcoma (tumor maligno que acomete os ossos), dermatopatia (alergias, pruridos e alopecias) e displasia coxo-femural.
Assim como a maioria dos cães sem raça, Chupeta foi encontrado na rua, ainda bebê. “Ele sempre foi sensível, mas a idade agravou ainda mais os problemas”, explica Adauto. O nome do animal faz alusão à chegada na casa de Adauto. “Ele se chama Chupeta porque chegou em nossa casa muito filhote e tivemos que amamentá-lo com mamadeira”, conta Belli.
Além de Chupeta, outros pets moram na casa. E, de acordo com o dono, todos convivem em harmonia. O cachorro é companheiro e muito próximo do dono. “É um animal a que me dedico muito e estou sempre próximo. Ele já tem 10 anos e sei que pode morrer por causa da idade avançada. A única coisa que eu posso fazer é cuidar da melhor maneira possível”.
O treinador ainda faz um apelo a quem compra cães levando em consideração apenas a raça. “As pessoas querem um cachorro com pedigree e esquecem que o principal é dar amor e cuidar. O Chupeta me cativou desde o início”, afirma.
O vira-lata não tem um padrão físico ou de comportamento. Pode-se afirmar, inclusive, que é um cachorro com personalidade imprevisível. “O temperamento do animal é determinado 50% pelo ambiente e a outra metade pelo fator genético. Sendo um cão originado da mistura de muitas raças, é mais difícil prever como ele vai se comportar”, explica o veterinário Paulo Henrique Cândido.
Meg é uma cadelinha SRD, de 1 ano. Quando foi encontrada na rua pela estudante Marcela Benevuta Alcanfôr, 45 anos, estava muito debilitada. “Achei a Meg numa pista quando ela ainda era filhote. Estava tão machucada que eu nem consegui identificar se era um cão ou um gato”, conta. Mesmo sob os cuidados de Benevuta, a cachorrinha começou a ficar anêmica.
O problema foi causado pela doença do carrapato. No veterinário, ela teve de passar por uma transfusão de sangue. Dois dias depois, começou a apresentar melhoras. Hoje, cinco meses depois, está recuperada. Além da caçula Meg, Marcela tem outros 13 cachorros e três gatos. Todos vira-latas e adotados.
É importante ressaltar, que, todo animal, independentemente da raça, está propenso a doença do carrapato. O que prejudicou a cadela Meg foi a situação em que ela se encontrava. “A imunidade estava muito baixa”, justifica o veterinário Rafael Souza. “Ela foi encontrada em uma estrada, suja e ainda filhote, ou seja, um prato cheio para as doenças”, afirma Marcela Benevuta Alcanfôr. O médico veterinário Rafael Souza explica em quais situações é preciso recorrer a uma transfusão de sangue. “Somente em caso extremo. E, infelizmente, isso está acontecendo com maior frequência”, afirma.
Todo pet necessita de amor e atenção. Apesar de não terem um padrão de estética e comportamento, os cães sem raça definida, geralmente são dóceis e esperam um lar. Várias instituições e organizações protetoras de animais oferecem cães para a adoção. Para se candidatar é preciso ter 18 anos, portar documento de identidade com foto e comprovante de residência; e assinar um termo de adoção responsável e posse.