Para quem gosta de cachorro, não é qualquer um que basta. Tem de ser o mais bonito, o mais esperto, o mais fofinho e, de preferência, o exclusivo. Alguns canis em São Paulo se especializaram em criar raças raras, ou pelo menos diferenciadas, para atender a demandas do Norte, Nordeste e até de fora do País. Os cachorrinhos, que já nascem com a data da viagem marcada, são “tipo exportação”.
Papillon, saluki, chow chow e samoieda são algumas das raças de luxo mais procuradas por quem é de fora. O cirurgião Marcelo Guedes, de João Pessoa, orgulha-se de ser o único da cidade a ter um papillon. “Talvez o único do Nordeste!”, diz ele, que “importou” o cachorro de um canil paulista, o Salatino. “Existe a cultura do “comprei em São Paulo”. Eles querem ter um cão de qualidade que ninguém mais tem”, diz Rochester Oliveira, proprietário do Salatino.
Rochester é um dos criadores de São Paulo que mandam pelo menos um cachorro por semana para fora do Estado e tem clientela cativa no Canadá, nos Estados Unidos e no Chile. Alessandra Raus, do canil Dirraus, orgulha-se de vender 90% da sua criação para o Norte e o Nordeste do País e alguns países da Europa. “Nosso público é gente que entende de cães e não encontra bons criadores onde mora. Eles pesquisam antes de comprar.”
Como nem todo mundo pode viajar para ver de perto o filhote, o processo de escolha do cão perfeito é todo online. Os canis costumam trabalhar com reservas, que são feitas antes mesmo de o filhote nascer. “O futuro dono acompanha tudo pela internet. Quando sai a ninhada, a gente mostra na webcam, manda foto por e-mail “, diz Priscila Fernandes, do canil Chivas Small. “A expectativa do outro lado é enorme. É como esperar um filho.”
O “filho” da arquiteta pernambucana Tatiana Campioni não só foi esperado, mas idealizado. Ela viu o cachorro dos sonhos em um filme e saiu do cinema decidida a ter um igual. “Nem sabia qual era a raça. Quando pesquisei, descobri que era um samoieda e vendia em São Paulo”, diz Tatiana, que mora no Recife.
Preços. A clientela sabe que ter o bicho de estimação que ninguém tem custa caro. Um exemplar da raça papillon – são menos de 200 da espécie no Brasil – sai por R$ 5 mil. “É como ter uma bolsa de grife”, diz Rochester Oliveira. Um chow chow e um samoieda custam entre R$1,5 mil e R$ 2 mil. E ainda tem o frete, entre R$ 200 e R$ 1 mil, dependendo do peso do cachorro e o destino. “Não adianta economizar no transporte, senão o animal não chega lá saudável”, afirma Diogo Ortiz, do canil Little Crystal.
Os animais precisam hoje de uma série de documentos para embarcar (veja acima). Em breve, a papelada deve ser substituída pelo passaporte animal, uma proposta do Ministério da Agricultura prevista para entrar em vigor até o fim do ano. Ele terá especificações de cor, raça, sexo e idade do bicho, além de nome e endereço do dono.
REGRAS DE EMBARQUE
Idade
O animal precisa ter, no mínimo, 45 dias de vida para viajar em voo doméstico. Para viagens internacionais, a idade mínima de 90 dias é recomendável.
Documentação
A viagem só é feita com a Guia de Trânsito Animal (GTA), com informações sobre a saúde animal certificadas por um veterinário. A GTA pode ser emitida no site do Ministério da Agricultura (www.agricultura.gov.br).
Vacinação
A primeira dose da vacina V8 (contra cinomose, adenovirus, parainfluenza, parvovirose, coranavirose e leptospirose caninas) é obrigatória. Depois do terceiro mês de vida, é exigida também a vacina antirrábica.
Internacional
Para viagens ao exterior, é preciso checar as regras do país de destino. Estados Unidos e Canadá, por exemplo, exigem exame sorológico do cachorro.