Já faz alguns anos que micropigs disputam espaço com cachorros e gatos nas residências familiares dos Estados Unidos e da Europa. Depois de virar animal de estimação de George Clooney, David Beckham, Paris Hilton e Reese Witherspoon, esse tipo diminuto de suíno, de até 25 kg e 40 centímetros, começa a ganhar os lares brasileiros. É fácil se encantar com o focinho minúsculo e as patinhas pequenas dos filhotes. Um pouco mais difícil é entender como eles podem ser tão menores do que os porcos das fazendas.
Reduzir o tamanho de um porco não foi ideia de uma dona de casa entediada. O objetivo era utilizá-los em laboratórios, com o intuito de facilitar pesquisas científicas. Aníbal de Sant’Anna Moretti, doutor em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres pela Universidade de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia na mesma instituição explica: “Depois do rato, o suíno é o animal escolhido para estudos biomédicos por causa da semelhança ao homem em vários aparelhos, como o digestivo, o circulatório, entre outros”. Como o suíno normal pode atingir 500 kg, a redução de peso e tamanho tornam mais práticos os estudos em laboratório.
Conforme Moretti, o estudo programado para o desenvolvimento de uma população de suínos em miniatura, geneticamente selecionados para a redução de tamanho, iniciou-se no Instituto Homel da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, em 1949. A fim de produzir animais com peso mais próximo do humano – e, dessa forma, aplicar testes de medicamentos mais acurados -, os cientistas principiaram um processo de cruzamento envolvendo porcos cada vez menores.
Assim, várias linhagens foram criadas para atender à demanda de pesquisa biomédica. Na linhagem Minnesota, por exemplo, o peso médio, aos 140 dias de idade, é de 18 kg, tendo o suíno normal, nessa idade, 100 kg. Na linhagem Yucatan, os porcos chegam a 20 kg em seis meses e a 50 kg em 1 ano.
Dos laboratórios para casa
Um porco normal pode chegar a 500 kg na fase adulta. Poucas pessoas teriam condições ou intenção de levá-lo com esse peso para dentro de sua residência e tratá-lo como animal de estimação. O micropig, por outro lado, pode ser mais carismático: raramente passa de 25 kg e 40 centímetros.
Mesmo assim, Jane Croft, a primeira criadora de micropigs do Reino Unido, não esperava o sucesso de sua “Little Pig Farm” (Fazenda de Pequenos Porcos).
“Nunca imaginei que a demanda seria tão grande, apesar de saber que os porcos são tão inteligentes e amorosos”, conta. A britânica passou um ano procurando pelo menor porco possível para dar início a sua criação. Ela encontrou a linhagem dos “mini pot-bellied pigs”, de origem vietnamita, alguns descendentes de porcos especialmente criados para experiências médicas na Dinamarca e na Alemanha.
Em 2009, ano em que o primeiro filhote nasceu, Jane ganhou manchetes de jornais e revistas, vendeu porquinhos para famosos – como Rupert Grint (Rony, da série Harry Potter) – e escreveu um livro, chamado “This Little Piggy” (Este Pequeno Porquinho).
Em 2011, porém, a fazenda de Jane recebeu diversas críticas de supostos clientes que teriam comprado micropigs que cresceram muito além do prometido. Esse, aliás, é um dos problemas de quem procura esse animal de estimação, já que alguns porquinhos filhotes podem ganhar corpo aos três ou quatro anos de idade, revelando um tamanho indesejado para a sala de estar do dono.
Para evitar essa surpresa, Flávia Abade, criadora de micropigs em São Roque (SP), recomenda que os compradores busquem referências antes de fechar o negócio. Ela afirma que, em sua criação, iniciada em 1998, procura produzir animais cada vez menores. “É uma mistura de duas raças doadoras de sua genética, o porco vietnamita e o cerdo enano, este último oriundo do Uruguai”, esclarece. Essa busca pela miniaturização, contudo, acarreta uma fragilização da saúde dos animais. “São menos resistentes a doenças, portanto o cuidado com os filhotes deve ser maior”, afirma. Segundo ela, não haverá problemas de saúde tomando os cuidados corretos.