As pequenas importadoras do mercado pet, que vendem roupas, brinquedos e acessórios de luxo, não conseguiram escapar da alta do dólar.
No entanto, apesar da variação do câmbio, multinacionais fornecedoras de rações mais caras e vacinas manterão os preços até início do ano que vem, graças à reserva de estoque e à compensação oriunda das exportações.
A sinalização é feita por distribuidoras e importadoras de produtos estrangeiros para pet shops. Diretor da Dasppet, subsidiária da Colgate-Palmolive e distribuidora da ração super premium Hill’s em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, Eduardo Maschka Lucas explica que a multinacional trabalha com preços tabelados e com uma margem de lucro segura, a fim de se proteger de prejuízos causados pela variação do dólar. “A Colgate-Palmolive se organiza para fazer o reajuste apenas uma vez por ano, geralmente em março. Somente se o dólar disparar e tiver uma taxa muito alta é que será preciso mexer no valor. Essas oscilações que ocorrem normalmente não são suficientes para mudar o preço dos produtos”, afirma Lucas.
Embora as rações mais caras sejam exclusividade de pets chiques, alimentos produzidos para os bichos são cada vez mais utilizados – em vez de restos de comida -, revela uma pesquisa do mercado feita em todo o país pela consultoria GS&MD – Gouvêa de Souza. A troca de hábito evidencia uma mudança no perfil do brasileiro, que cada vez mais gasta com seu animal de estimação. O levantamento mostra que cada domicílio dispensa anualmente R$ 759 no trato com cães e R$ 557 com gatos. O aumento ajudou a movimentar R$ 18,8 bilhões no mercado pet em todo o Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). A projeção é de que o crescimento para o próximo ano seja de 15,5%.
Em um país onde há 35,7 milhões de cães e 19,8 milhões de gatos, segundo a consultoria, o nicho ainda tem muito o que crescer. “É um mercado que está em processo de amadurecimento e que antes tinha muita informalidade – nos chamados pet shops de garagem. Em função da melhoria da capacidade de gasto do consumidor, há uma maior formalização das lojas e um aumento do número de produtos disponibilizados no mercado”, explica Luiz Goes, sócio-sênior da GS&MD. Ele acrescenta que as lojas de produtos para animais de estimação estão passo a passo assumindo uma identidade própria e se inserindo no varejo.
Importadoras menores irão reajustar preço
Vulneráveis às mudanças no câmbio por não contarem com os mesmos mecanismos de proteção de importadoras multinacionais, pequenas lojas de compra de produtos estrangeiros vão precisar reajustar o preço. Rafael Attar, responsável pelo setor de compras da importadora American Pets, em São Paulo, afirma que espera repassar a variação do dólar a partir de agosto. O mês é crucial porque é quando os estoques acabam e são renovados. “Não vai impactar em um primeiro momento, porque produtos que estão entrando hoje foram pagos 20 dias atrás”, afirma. No caso de Attar, brinquedos, camas, artigos de higiene e escovas para pelos sofrerão reajuste de até 15% – fruto das importações da China.
Agosto também é o mês em que a pet shop AniMall Pet Story, de São Paulo, projeta mudar seus preços. Segundo Eduardo Bonini, sócio-diretor da empresa, acessórios como coleiras, guias, bebedouros e brinquedos vão ficar mais caros justamente por não serem adquiridos de grandes multinacionais. “Quando eu for atrás de importadoras e distribuidoras, com certeza vou sofrer na hora de pagar, porque vou me esbarrar com esse aumento. O importador comum não trabalha com estoques grandes”, diz.
Camila Dotta, uma das sócias da Simply Pet, boutique focada no público AA da capital paulista, diz que o ajuste vai ser feito quando o estoque de roupas de cashmere, bijuterias, coleiras sul-africanas, capas de chuva italianas e jogo americano para refeições acabar. “Conforme os produtos chegarem, eu vou repassar os preços. Uma hora vou ter de fazer isso – não tudo de uma vez, para que não seja drástico, mas vou”, afirma.