Estima-se que, no Brasil, haja ao menos 2,5 milhões de animais domésticos que foram abandonados por seus donos.
O número, uma projeção da WSPA (sigla em inglês para Sociedade Mundial de Proteção Animal), pode ser maior, segundo representantes da área. A população de animais não para de crescer. E, com ela, a de proprietários despreparados. “Podemos resumir a questão em uma única palavra: irresponsabilidade – no caso, de quem adquiriu um animal sem ter condições de criá-lo ou permitiu que ele se reproduzisse sem poder assumir a cria”, diz Rosângela Ribeiro, gerente da WSPA Brasil.
Além da conscientização de aspirantes a donos de animais, a solução para o problema, apontam especialistas, passa pela adoção. Foi o que fez a advogada Christie Bechara, de 36 anos. Em 2007, envolvida com temas de sustentabilidade no trabalho, ela visitou uma feira em São Paulo realizada pela organização não-governamental (ONG) Animais Precisam de Ajuda. Saiu de lá com dois gatos, Pandora e Benê. “Eram gatos de rua. A Pandora foi recolhida perto de um cemitério, onde, por causa da cor, preta, era maltratada. Depois que a trouxe para casa, a ONG me procurou algumas vezes para saber como ela estava: havia uma preocupação, porque gatos pretos às vezes são adotados com fins de feitiçaria.” A experiência de Christie deu tão certo que, no começo do ano, ela adotou um terceiro animal: Princesa, encontrada em frente ao seu prédio.
A vida de animais de rua não é fácil. E pouco adianta o fato de que é crime largá-los por aí. Segundo a Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9.605), maltratar um animal – e abandono pode ser entendido como tal – é ato punível com detenção de três meses a um ano, além de multa. “A dificuldade é constatar o crime: é preciso um flagrante”, diz Ana Claudia Mori, gerente do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Prefeitura de São Paulo.
Destino de muitos animais preteridos na capital, o CCZ serve de termômetro do abandono na cidade. Por mês, o local recebe cerca de 2.500 solicitações de remoção de animais – pessoas que ligam ou escrevem informando sobre o caso de um bicho abandonado a ser recolhido. Como desde 2008 o CCZ está proibido de praticar eutanásia em animais saudáveis, e apenas entre 80 e 90 cães e gatos removidos pelo centro são adotados mensalmente, muitas das solicitações deixam de ser atendidas. “Temos vagas para 354 cães e 40 gatos. A rotatividade é pequena porque a procura pela adoção é menor do que a necessidade”, afirma Ana Claudia.
Com sede no Rio de Janeiro, a Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa) também recebe e encaminha animais para adoção. Já recepcionou bichos de diversos estados, como São Paulo e Paraíba. Por dia, de acordo com a presidente da entidade, Izabel Cristina Nascimento, chegam 60 bichos abandonados – a instituição já hospeda 5.000 animais. “Abandonar é o pior verbo que eu conheço. O ser humano acha que um animal de estimação é um brinquedo para ter em casa, e depois se cansa de brincar”, diz. “É preciso estimular a adoção para salvar os animais abandonados, e também porque um bicho não é uma coisa que se compre no mercado.”