É claro que criatividade é fundamental para tosadores, mas engana-se quem pensa que o trabalho desses profissionais das tesouras se limita a essa característica.
Eles também dão carinho, amansam e funcionam como terapeutas dos pets, pois passam a maior parte do tempo com a bicharada que circula pelo pet shop.
E olha que essa profissão pode ser um tanto quanto perigosa, já que o risco de mordidas, arranhões e acidentes com tesouras, pentes e outros apetrechos é grande.
Bianca Mesquita, do Pet das Meninas, na zona sul da cidade de São Paulo, começou a tosar animais por conta própria e já exerce a função há 14 anos. Ela explica que, além do amor pela profissão, é preciso ter cautela para evitar machucados.
– Já fui mordida durante o trabalho duas vezes. Não acho seja possível se prevenir. A tesoura precisa estar longe, e a mão, perto do bicho. Para não machucá-lo.
Outro especialista em aparar os pelos dos bichos, Marcos Tomiceli, funcionário do Pet Real (zona oeste da capital), afirma que esses incidentes são mais comuns com os principiantes.
– Se o animal está muito ofegante, o tosador corre risco de levar uma mordida. Quando o profissional está começando, é importante que alguém o ajude. Leva um tempo até adquirir malícia necessária para saber se o cachorro vai morder.
Para Bianca, o entrosamento entre o especialista e o pet é fundamental para garantir uma tosa perfeita.
– Qualquer corte pode ser feito, quando há entrosamento. Mas, às vezes, os animais estão mais estressados e agitados. Por isso, acabam se mexendo na hora de passar a tesoura, o que pode comprometer o resultado.
A tosadora conta que oferece uma espécie de “recall” depois de terminar o serviço – ou seja, quem quiser pode levar o bichinho de volta ao pet shop para fazer um acerto ou outro no “penteado”. Para ela, erros são inadmissíveis: o cliente tem direito de pedir o dinheiro de volta.
Já Fábio Martins, tosador do Pet Shop Encrenquinhas, também na zona oeste, o proprietário do animal deve explicar detalhadamente o que pretende.
– Às vezes, acontecem erros no corte por falha na comunicação entre o tosador e o dono do bicho.
Mas isso não significa que os profissionais devam temer de dar suas sugestões. Bianca conta que alguns clientes a encarregam de definir o estilo da tosa, o que é um desafio, pois o resultado pode não ser o esperado.
Mas há clientes, por outro lado, com pedidos bastante extravagantes. Como cortar o pelo de um poodle como se fosse um cão da raça schnauzer – de características completamente diferentes.
– O bichinho ficava engraçado e virava o centro das atenções, pois saía com sombrancelhas de schnauzer.
Por isso a importância dos pitacos.
Como escolher um tosador
Ser fiel a um tosador é uma dica valiosa para quem quiser garantir um bom resultado e evitar que o animal se estresse. Você gosta de trocar de cabeleireiro todo mês? Pois o raciocínio, neste caso, deve ser o mesmo.
Dê uma olhada no currículo dos funcionários de um pet shop antes de deixar a mascote para tomar banho, peça indicações a conhecidos e assista ao trabalho do especialista.
Para ser tosador, não é obrigatória uma formação específica, mas ter passado por um curso preparatório costuma ser requisito pedido por muitos estabelecimentos.
Atualmente, existem aulas rápidas com duração de poucos dias para quem pretende se especializar no assunto. Mas, segundo Tomiceli, não são uma boa alternativa, pois, sem o domínio da técnica, há o risco de ferir o animal.
– Fiz um curso que durou dois meses e, mesmo assim, acho que foi pouco tempo. Quando comecei, ainda tinha muitas dúvidas e receios. Só adquiri segurança realmente depois de um ano de prática.
A experiência e o cuidado com o animal, segundo Bianca, são fundamentais. Alguns – como os obesos e idosos – precisam de mais cuidados.
– Muitas vezes, temos de ficar virando os animais mais gordinhos na mesa para fazer o corte. Já os velhinhos não podem ficar muito tempo em pé. Cães alérgicos à lamina e com verrugas também merecem atenção redobrada.