No canil da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, cães da raça golden retriever são utilizados em estudos sobre distrofia muscular. Os pesquisadores observam o comportamento dos animais e a evolução da doença, testam técnicas para melhorar a qualidade de vida deles e pesquisam caminhos para que a cura do mal seja descoberta.
O canil está situado na FMVZ há oito anos. Alguns dos cães são vítimas de distrofia muscular, doença genética que, entre outros efeitos, prejudica o desempenho dos músculos do organismo. Os indivíduos vitimados pela distrofia têm dificuldade de movimentos e deglutição, entre outras alterações.
O Brasil, com o canil da FMVZ, é um dos três únicos países do mundo detentores desse modelo animal – França e EUA são os outros. A professora Maria Angélica Miglino, responsável pelo canil, conta que entre os frutos acadêmicos do local estão uma pesquisa que identificou diferentes fenótipos (manifestações externas corpóreas) entre os animais afetados pela doença e outra, de uma ex-mestranda, que desenvolveu um método para facilitar a alimentação dos cães. É na observação do comportamento dos animais e na evolução da doença que se concentram os estudos realizados no espaço.
Na rotina do canil, segundo a professora, incluem-se atividades que se configuram como “um curso de veterinária à parte”. Maria Angélica refere-se às ações corriqueiras que devem ser feitas para que os animais tenham uma boa qualidade de vida (por serem portadores de uma doença agressiva, os bichos demandam cuidados específicos, como a entrega de alimentos diretamente na boca). Outra questão relatada pela professora é a dificuldade de respiração desses animais, o que faz com que os veterinários e estudantes responsáveis acabem se encarregando também de prestar socorro em emergências.
Maria Angélica Miglino explica que todo esse contexto faz com que o canil, além de um bom gerador de estudos, acabe sendo um espaço para a ótima formação de recursos humanos, com novos pesquisadores e professores adquirindo um conhecimento diferenciado. Os professores Carlos Eduardo Ambrósio e Daniele dos Santos Martins são exemplos de profissionais que tiveram o canil como campo de trabalho.
A doença
Distrofia muscular é um termo amplo utilizado para se referir a um grupo de doenças genéticas que afetam a musculatura e causam fraqueza. A intensidade da fraqueza pode variar de acordo com o tipo de distrofia, bem como o grupo muscular afetado e a velocidade de degeneração. A distrofia muscular de Duchenne é forma mais comum dentre as variedades da doença.
A distrofia muscular é causada pela ausência (ou ineficiência) de uma proteína chamada distrofina. A substância é responsável, em conjunto com outras, pelo bom funcionamento das fibras musculares.
As pessoas e cães vitimados pela distrofia não têm a distrofina, ou nelas a proteína não opera da maneira adequada. Tal situação ocorre por questões genéticas. Os pacientes têm uma modificação no cromossomo X que faz com que essa condição ocorra.
A ciência ainda não obteve uma cura para a doença. Terapias gênicas ou celulares, como a inserção de células-tronco, são possibilidades que se sugerem como uma solução, mas ainda estão em fase inicial. Atualmente, ministram-se práticas como fisioterapia e medicamentos, que fazem com que a qualidade de vida dessas pessoas melhore.