O marido não apreciou, a mãe reclamou e a sogra teve chiliques, mas a realidade é que ninguém conseguiu convencer a gestante a doar o gato após o nascimento do bebê.
Questão extremamente delicada, a decisão de manter seu fiel amigo em um dos momentos mais delicados da vida pode ser uma das primeiras sensações de culpa que acompanha os primórdios da maternidade. Família, nessa hora, nem sempre ajuda, jogando ainda mais areia nas (boas) intenções da dona do animal. Isso mesmo, areia. Uma das grandes vilãs da permanência do gato em uma casa com bebê, a areia é onde ficarão os dejetos do gato que de mimoso passa a ser a criatura mais perigosa do mundo. E não adianta dizer “bebê, não toca naquela areia!”. Esqueça. Criança ama areia. E parentes antigatos adoram saber disso.
Mergulhada em todas essas possibilidades de acidentes envolvendo o gato e o filho, está perdida uma gestante e, não raro, aos prantos.
E agora? Estar condenada ao título de Mãe Irresponsável do Ano antes mesmo de o filho nascer? A quem pedir ajuda se o pediatra do priminho condena e a ginecologista absteve-se da votação? Com aliados zero, o coração da futura mamãe continua em apuros. A questão é que não é qualquer gato: é o Mimi, felino que com ela vive desde os tempos de solteira. Pode ter sido presente do pai no dia da formatura, um fiapo de animal que pegou na rua, não importa.
O fato é que Mimi é seu amigo, testemunha muda de suas faltas, seu grande confidente e companheiro e nada disso tem valor para a família que pergunta, a todo instante, se o gato pulguento já foi para outra casa.
Doar o Mimi ?! Nem pensar!
Quer dar uma chance a ele? É possível ficar com Mimi e se livrar da pressão da família? Muito bem, vamos por etapas. Do que todos têm medo, afinal? Antes de dar sumiço no gato, é preciso esclarecer a todos o real risco que mãe e bebê estão submetidos na presença dele, e avaliação profissional é o mais sensato a fazer.
Exames específicos, realizados com algum intervalo de tempo, podem colaborar com as justificativas tão necessárias para escorar a decisão da jovem mãe. O veterinário é o profissional mais adequado para orientar sobre os cuidados que evitarão problemas no futuro, resultados que deixarão a imagem de nosso bichano livre de qualquer arranhão.
Mas atenção!
Se o gato for temperamental _ embora querido com sua dona, é traiçoeiros para outras pessoas –, o desconforto dos familiares passa a ter fundamento. Quando a criança engatinhar e esbarrar no mascote, a estatueta de Irresponsável do Ano terá uma eleita.
Muitas gestantes recorrem à castração dos animais para torná-los mais dóceis. Funciona? Não. Se o gato é adulto e acostumado a esse tipo de conduta, uma castração não reverterá sua personalidade.
Na dúvida, não ultrapasse. Se a dona do gato não está segura sobre as atitudes dele, o melhor a fazer é dar um tempo, o que não quer dizer doar em definitivo. A casa da vovó é uma alternativa. Mais tarde, se Mimi não se mostrar amável na presença da criança, ou se o bebê não parar de espirrar, lamento dizer, mas existem prioridades.
Embora continue sendo a vovó uma boa opção, vizinhos, parentes e amigos também constituem uma outra forma de manter o contato com o querido mascote que, sabemos, gosta muito de sua dona e age apenas seguindo instintos contra essa grande ameaça que se tornou o “filhote” dela.