Tradicional e bastante procurado, o curso de Medicina Veterinária já é conhecido dos estudantes, porém nem todos sabem que a graduação vai além dos cuidados com animais domésticos. Existem outras atribuições, como controle de doenças, fiscalização de frigoríferos e até mesmo projetos ecológicos. Estados como o Rio Grande do Sul e Mato Grosso estão entre os que mais demandam profissionais e, com a expansão da pecuária, garantem um bom mercado para quem escolhe a carreira.
Entre as principais funções do veterinário, além de prestar auxílio clínico aos animais domésticos, estão a prevenção e o controle de doenças em propriedades rurais, a fiscalização de estabelecimentos que produzam, vendam ou exportem produtos de origem animal e a participação em projetos ecológicos para reservas naturais.
Uma das mais antigas do País, a faculdade de veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) existe desde 1923 e tem duração de 11 semestres. A forma de entrada é por meio do vestibular próprio da instituição. A seleção já chegou a ter cerca de 17 candidatos por vaga . Hoje, esse número gira em torno de 12, devido não à redução na procura, mas a um aumento do número de vagas disponíveis.
O coordenador do curso, Eduardo Bastos, acredita que essa manutenção do interesse dos estudantes se deve ao fato de que muitas regiões do Brasil têm áreas privilegiadas, pois contam com espaços de expansão para a agricultura e pecuária. “Aqui mesmo no Rio Grande do Sul, temos o maior rebanho de carne vermelha do mundo e estamos crescendo, tudo isso gera demanda”, afirma.
Ao longo dos cinco anos e meio, são desenvolvidas algumas cadeiras tradicionais, como saúde animal e clínica veterinária, produção e reprodução animal, higiene e medicina veterinária preventiva, ecologia e produção do meio ambiente. Disciplinas de administração foram incorporadas ao longo do curso, caso da política econômica para a agricultura, que possibilita aos alunos recém-formados montar seu próprio negócio.
Bastos acredita que a maioria das pessoas tem a imagem do veterinário como aquele que cuida apenas de animais de estimação, porém existem outras áreas que são desconhecidas, mas fundamentais para todos. “Os trabalhos em saúde pública são menos conhecidos. A população desconhece que, nas suas refeições diárias, onde são usados produtos de origem animal, os médicos veterinários realizam um papel fundamental de fiscalização para que o produto chegue com qualidade na mão do cliente”, afirma. Para o coordenador, a profissão será altamente solicitada no futuro. “Os alimentos de origem animal, em breve, valerão mais que o petróleo, e serão essenciais para a sobrevivência humana. Aí vai entrar o papel do veterinário, pois será fortemente usado no abastecimento de proteína animal para os seres humanos”, salienta.
Mato Grosso atrai estudantes de outros Estados
O Estado de Mato Grosso é um dos locais do País mais propícios para a profissão, e isso é sentido no curso da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). A graduação foi criada em 1992 e também tem duração de cinco anos. Existe uma grande procura, não apenas de estudantes do Estado, mas de outras localidades como Goiás e Tocantins. Essa demanda aumentou ainda mais com a adesão da universidade ao Sistema de Seleção Unificado (Sisu), que utiliza o Enem como forma de ingresso. Hoje, jovens de Minas Gerais e São Paulo estão ingressando em maior número na universidade.
O coordenador do curso, Afonso Ludovico Sincok, acredita que essa grande procura se deve ao fato de que a universidade está entre as dez melhores faculdades de Medicina Veterinária do País, segundo o Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (Inep). Outro diferencial é que o Mato Grosso possui o maior rebanho de corte do Brasil e tem uma produção industrial de peixes em grande escala, além das tradicionais áreas como apicultura e produção de leite. “É uma necessidade de profissionais grande, portanto os estudantes acabam ficando aqui no Estado”, afirma Sincok.
Lidar com animais de pequeno porte ainda é um dos maiores desejos de quem recém entra na faculdade. Porém existem grandes oportunidades em outros campos. Para o coordenador, a cadeia de produção animal é uma nova tendência do mercado. “Este profissional acompanha todo o processo de melhoramento genético, criação, alimentação e reprodução dos animais. Até os produtos derivados a serem servidos na mesa do consumidor”, afirma.
Paixão e empreendedorismo
Kiana Fagundes, 46 anos, atua há 18 anos como médica veterinária e optou por abrir o seu próprio negócio: uma petshop, que funciona há 13 anos na cidade de Porto Alegre (RS). Ela conta que, desde que cursava a faculdade, já pensava em abrir a sua própria empresa. “Assim eu poderia juntar a minha paixão de animais e o empreendedorismo, que é algo que gosto muito”, relata. Kiana trabalhou em diversas outra petshops, para depois poder rumar para uma empresa sua. Para ela, as experiências anteriores são fundamentais para que o negócio dê certo. Mesmo que os cursos atuais de veterinária tenham incorporado cadeiras de administração, ela acredita que a vivência no ambiente de trabalho ainda é fundamental. “Tem que ver a realidade primeiro”, afirma. Segundo Kiana, atualmente, montar uma petshop virou moda. Ela acredita que, para o negócio dar certo, é preciso realmente amar a profissão. “Não é fácil como parece, todo dia é uma correria, muitas vezes trabalhamos bastante, pois precisamos ficar de plantão. Se realmente quiser fazer isso, não pode ser porque quer ganhar dinheiro, tem que ter paixão pelo que faz”, afirma.