Todos os anos milhões de animais de estimação mortos são simplesmente jogados no lixo na Alemanha. Mas cada vez mais alemães acham que seus bichos merecem um lugar melhor para o descanso eterno.
Muitos alemães dividem suas vidas com animais – cães, gatos, coelhos ou hamsters, por exemplo – por considerá-los uma melhor companhia do que amigos e parentes. Mesmo assim, quando o bicho morre, ele é, muitas vezes, simplesmente jogado no lixo.
Mas um número crescente de alemães acha que seus animais merecem um enterro decente. Foi o caso da aposentada Anneliese Miller. Para ela, jogar o seu querido Benno no lixo estava fora de questão. Há três semanas, Miller, que reside em Bonn, precisou se despedir de seu dálmata. Uma situação por si só dramática, mas que seria ainda pior se Benno fosse transformado em cosméticos, detergente ou velas de Natal. Isso seria insuportável para a idosa.
Para dar um fim digno ao cachorro, Miller entrou em contato com Thomas Schoenfelder, da funerária para animais Rosengarten (Jardim das Rosas, em português). “O primeiro contato é sobre questões pessoais”, ressaltou Schoenfelder. Para ele, trata-se de perceber o que o cliente quer e explicar quais os passos a serem tomados.
Formalidades de lado, os temas principais são onde buscar o animal (se em casa ou no veterinário) e que tipo de enterro se deseja. Se a decisão ficar nas mãos de veterinários, os restos do bicho de estimação acabam, geralmente, sendo utilizados na indústria.
Virando sabão
Na indústria, os animais têm sua pele removida e são colocados em estufas com temperaturas de até 133 graus para que todas as bactérias e agentes causadores de doenças sejam exterminados. Depois, os cadáveres são cortados em pedaços pequenos e cozidos em grandes caldeirões.
A gordura animal é uma matéria-prima valiosa na produção de óleo, cola, pasta de dente e vitaminas. Mais de 100 mil toneladas de carcaças de animais são processadas anualmente na Alemanha. Mas o que, para alguns, é economicamente bom, se transforma num pesadelo para os amantes dos animais.
Por isso, donos de bichos de estimação pagam centenas de euros para que o animal seja cremado ou enterrado. “É possível escolher entre cremação individual ou coletiva”, ressaltou Schoenfelder. “Se ele for cremado sozinho, você pode levar as cinzas para casa ou jogá-las num campo”, lembrou.
Descansando em paz
A outra alternativa é o cemitério de animais de estimação, como o da alemã Evelyn Schaefer, de Kerpen, nas proximidades de Colônia. À primeira vista, não há muita diferença entre o local e um cemitério para pessoas. Há lápides e até mesmo uma capela para velórios.
As semelhanças acabam quando se olha com mais atenção: as lápides são menores do que o convencional. E os nomes inscritos nelas são outros. “A única coisa que você não vai encontrar é um padre”, explicou Schaefer. Cemitérios são a forma mais cara de dar um descanso digno ao bicho de estimação. Os custos podem chegar a 800 euros.
Algumas pessoas podem torcer o nariz para a idéia de se gastar tanto dinheiro com um animal de estimação, ainda mais morto. Mas, para Anneliese Miller, é uma questão de fé. “Acho que animais também têm alma e vamos encontrá-los mais uma vez em algum outro lugar”, explicou a aposentada.