Contrabandistas de animais ameaçados trabalham em conjunto internacionalmente. Já o mesmo não pode ser dito dos países que tentam combater a captura ilegal de animais. Desta forma, contrabandistas e comerciantes podem com frequência agir sem muitos impedimentos, o que este banco de dados internacional pretende mudar.
No mês passado foi lançado no Quênia o Wildlife Enforcement Monitoring System (WEMS – sistema de reforço no monitoramento da vida selvagem). Este banco de dados foi desenvolvido pelo indiano Remi Chandran, pesquisador vinculado à Universidade de Twente, na Holanda. Ele explica por que um sistema assim era necessário:
“O problema era que, em termos de comércio ilegal de animais, não havia nenhum sistema no qual os países pudessem reunir, analisar e trocar informações. Com o Wildlife Enforcement Monitoring System isso agora é possível.”
Comércio ilegal
Trata-se, por exemplo, de que animais, e quantos, foram apreendidos e onde isso aconteceu. Os dados são postos no sistema e podem ser consultados imediatamente. Desta maneira será mais fácil mapear as rotas de contrabando entre vários países e prevenir o tráfico.
Em primeira instância, três países estão conectados ao sistema. Três vizinhos do leste da África: Uganda, Tanzânia e Quênia. Nos próximos anos Chandran e seus colegas de Twente vão acompanhar o funcionamento do WEMS. “Se for um sucesso, esperamos que o sistema possa ser aplicado em mais países. Iremos passo a passo”, diz Chandran. “Depois talvez seja a vez da Ásia. Isso não será fácil porque muito comércio ilegal vai justamente pra lá. Por isso países asiáticos talvez não estejam tão abertos a trabalhar com o WEMS”, acredita Chandran.
CITES
O temor não é infundado. Esta semana acontece em Genebra a conferência CITES, a convenção internacional sobre comércio de animais e plantas ameaçados. Lá os países asiáticos também oferecem resistência, e não querem, por exemplo, que organizações como o Fundo Mundial da Natureza (WWF) estejam presentes. Os motivos não são claros. Talvez pelo fato de um país como a China não querer ser tão abertamente criticado.
O comércio ilegal da África para os países asiáticos cresceu muito nos últimos anos. E os rinocerontes são os que mais têm sofrido. Seus chifres são levados principalmente para a China, diz Christian van der Hoeven, do Fundo Mundial da Natureza:
“Tem a ver com a demanda. O comércio aumenta se a demanda aumenta. E estamos vendo isso acontecer principalmente em países como a China. Tem a ver com a crescente prosperidade no país. Isso no entanto não quer dizer que as autoridades chinesas não façam nada contra isso. Mas é um processo demorado até que as coisas mudem.”
Prática resistente
Van der Hoeven festeja a criação o banco de dados da Universidade de Twente, mas diz que a prática é resistente. O comércio de marfim e dos chifres de rinoceronte é muito lucrativo. Paga-se valores muito altos na China. E muitas vezes há organizações poderosas por trás – pelo menos é o que se acredita -, que têm contato em altos níveis, o que torna difícil detê-los.
“Você pode penalizar o transportador e o contrabandista, mas com isso não chega à raiz do problema”, diz Van der Hoeven. “Frequentemente há grandes grupos com muito dinheiro e poder por trás. Os preços do marfim são tão altos para que se possa voar rapidamente com um helicóptero a um parque na África do Sul, pegar o marfim e depois ainda voltar com um jatinho particular para a China. E mesmo assim ainda há um grande lucro.”
Negócio lucrativo
Na internet pode-se encontrar pele de animais ameaçados à venda por grandes somas, inclusive em sites de leilão.
Segundo o jornal indiano The Hindustan Times, a pele de tigre custa 124 mil dólares e um tigre empalhado 700 mil dólares. Pele de pantera pode chegar de 100 a 300 mil dólares.
O comércio ilegal de marfim estará esta semana entre as prioridades na agenda da CITES. Só na África o volume do comércio de marfim cresceu de 2005 a 2010 de 620 quilos para 5,6 toneladas, segundo dados do Kenya Wildlife Service.